
Esse post nasceu de uma conversa real no WhatsApp. Um dev que ouve o podcast Escovando Bits – mais precisamente o episódio “A IA já roubou seu emprego?” – me mandou uma mensagem que começou assim:
“Cara, tô me tornando um Dev Júnior que não consegue nem analisar se a IA tá me entregando um código certo.”
E aí, confesso, parei pra pensar: Quantos devs estão passando exatamente por isso… e nem se deram conta?
👨💻 O novo dilema do Dev Júnior: criar código ou validar o que a IA cuspiu?
É cada vez mais comum ver devs iniciantes (e não só eles) usando IA como principal ferramenta de trabalho. Isso não é ruim – desde que você saiba o que está fazendo. Mas tem uma armadilha rolando por aí: Dev que não sabe se o código está certo, só porque foi a IA que escreveu.
Ou pior: acha que tá certo porque foi a IA que escreveu.
E isso é perigoso. Sabe por quê? Porque você para de criar código e começa só a gerar código.
🚩 A diferença entre “Gerar” e “Criar”
Imagina que você está sozinho num projeto, sem code review, sem par, sem sênior por perto. Você precisa fazer uma View para uma aplicação e então vai lá no ChatGPT ou na IA de plantão e manda:
❌ Prompt errado:
“Crie uma view que lista os usuários cadastrados.”
A IA vai mandar um código. Provavelmente até funciona. Mas… você entendeu o que aconteceu ali? Sabe por que aquilo é daquele jeito? Se quebrar, sabe arrumar? Se a resposta for “não”, temos um problema. Mesmo que o código esteja funcional, ele está além do seu domínio. E nesse caso, você não está programando — está apenas validando respostas de uma máquina.
Agora olha essa outra abordagem:
✅ Prompt certo:
“Quero fazer uma view em Django que recebe uma requisição GET, converte o parâmetro ‘user_id’ para string, busca no banco um usuário com esse ID e, se encontrar, retorna o nome. Se não encontrar, retorna erro 404.”
Percebe a diferença?
Aqui você está no controle. Você está ditando a lógica, o processo, os passos. A IA só está completando com código aquilo que você já pensou. Você sabe o que quer, pensou nos passos, você é o autor da solução, a IA só completou a parte braçal.
🧭 Criar é como dirigir. Gerar é pegar carona.
Essa é a grande virada de chave.
Quando você cria, você pilota. A IA vira seu copiloto, como um Waze que te ajuda a encontrar o caminho mais curto, mas você sabe dirigir. Quando você só gera, você entra no carro e deixa a IA te levar.
Mas aí vem o problema: você não sabe dirigir, e também não sabe se ela te colocou na estrada certa.
É aí que mora o risco. Se der algum erro no trajeto (e vai dar!), você não tem controle. Não sabe voltar. Não sabe contornar. Não sabe nem onde tá.
✍️ Criar exige intenção. Gerar exige sorte.
A criação tem a ver com pensar, decidir, errar e aprender. É o processo de formar uma lógica, uma hipótese, uma estrutura. Já a geração automática, sem contexto, sem objetivo, é como jogar no escuro esperando que o acerto venha por sorte.
E convenhamos: se você quer evoluir como dev, não pode depender de sorte.
🧠 Como usar a IA pra te fazer evoluir (e não te deixar mais dependente)
O segredo não está em evitar a IA. Está em usar ela com consciência. Aqui vão algumas perguntas que você pode se fazer antes de sair colando código por aí:
✅ Checklist rápido:
- Eu sei o que quero que o código faça?
- Eu consigo explicar em etapas o que precisa acontecer?
- Eu li e entendi cada linha do que a IA me entregou?
- Eu conseguiria explicar esse código pra alguém?
Se a resposta for não pra alguma dessas… calma! Não significa que você é ruim. Significa que talvez você esteja cedendo o volante cedo demais. Eu chamo este processo de “roer osso”, significa que é hora de sentar, usar o velho Google para entender como chegar ao resultado que você espera. E depois de um pouco de contexto voltar e fazer a pergunta certa para a IA.
🔎 Mas como eu sei se o código da IA tá certo?
Aqui vai uma regra simples (e poderosa):
Se você entendeu o código, ele provavelmente está bom o suficiente pro seu momento.
Se você não entendeu, ele com certeza está ruim — ou você precisa entender melhor o framework.
Simples assim.
Não adianta você usar um código que nem sabe o que está fazendo. Isso não é programar, é sortear bugs futuros.
📚 IA é ferramenta, não atalho
Usar a IA como apoio é maravilhoso. Mas só quando ela entra pra somar com o seu raciocínio, e não pra substituir ele. Não quero ser engenheiro de prompt, mas de maneira geral se você quer evoluir imagino que bom prompt começa com “Eu preciso fazer isso, isso e isso…”. Se ele está começando com “Faça pra mim”, acho que entrou em um caminho perigoso.
No fim das contas, o código é seu. A responsabilidade é sua. E o aprendizado, também.
✨ A real: tá tudo bem se sentir assim
A mensagem que recebi daquele dev é mais comum do que parece. Ele terminou dizendo:
“Então tô no caminho certo, né? Porque eu tento seguir esses passos.”
Sim, cara. Tá no caminho certo. Porque você tá tentando. Tá pensando. Tá se questionando. E isso, no fundo, já te coloca anos-luz à frente de quem só copia e cola.