A cena é cada vez mais comum no escritório:
- “GPT, qual mesmo é 17 × 24?”
- “Me diz quais fornecedores devo priorizar (sem anexar planilha nenhuma).”
- “Escreve um e-mail de follow-up para o Ricardo… (quem é Ricardo? qual projeto? 🤷).”
A IA já é a primeira parada para tudo, inclusive para a correção gramatical deste texto. Mas ela vai além, da conta de padaria ao rascunho estratégico,porém ao pular direto para o prompt, muita gente esquece dois fatos básicos:
- GPT não tem a SUA base de conhecimento. Ele só acerta quando recebe contexto rico e explícito.
- Pensar continua sendo insubstituível. Usar a IA como atalho mental em tarefas triviais rouba o treino diário de raciocínio que molda bons solucionadores de problemas.
O resultado? Profissionais que terceirizam a reflexão e, sem perceber, vão atrofiando a musculatura cognitiva que os torna valiosos fora da tela. Não quero “cagar regra”, IA é inevitável, assim como “Thanos” em Vingadores, porém podemos ser melhores, podermos ter intensão.
Da “pergunta preguiçosa” ao “prompt intencional”
Hábito que observamos | Por que é um problema | Como redirecionar com Design Thinking |
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Perguntar “qual a conta?” em vez de abrir a calculadora mental | Perde-se agilidade numérica e checagem de plausibilidade (será que 400 k no CAPEX faz sentido?) | Observar antes de automatizar: pare 30s, estime. Só depois peça à IA para validar e explicar divergências. |
Jogar um briefing raso no chat (“escreve um relatório sobre o projeto X”) | A IA devolve texto genérico; tempo gasto editando e retrabalhando | Escutar antes de sintetizar: colete fatos, métricas, emoções dos stakeholders; organize em bullets; então peça à IA para estruturar a narrativa. |
Usar GPT para decidir entre propostas sem anexar dados comparativos | Risco de viés ou de recomendações inconsistentes | Testar com as mãos, o coração e a cabeça: construa uma matriz simples de critérios (custo, SLA, fit cultural); alimente o modelo, peça justificativas e confronte-as em reunião. |
Os impactos silenciosos de “não pensar”
Olhando para isso eu penso nas consequências que estamos plantando para o nosso pŕoprio futuro. Em uma análise rápida eu vejo 3 grandes pontos:
- Atrofia do senso crítico – quanto menos você estima, calcula ou formula hipóteses, menos consegue detectar respostas absurdas.
- Decisões enviesadas – ausência de contexto produz saídas plausíveis-mas-erradas; o time compra números bonitos sem lastro.
- Perda de ownership – trocar reflexão por “prompt‐e‐cola” dilui autoria e responsabilidade pelos resultados.
Três micro-rotinas para re-treinar o cérebro (e ainda aproveitar a IA)
Não quero ser coach de produtividade nem de inteligência corporativa, todavia acho que vale seguir alguns passos antes de derreter sua consciência em prompts fáceis e respostas fáceis:
- Rabisque primeiro, pergunte depois.
Faça um esboço manual da solução, seja um cálculo, um fluxograma ou uma lista de requisitos, e só então use a IA para expandir, refinar ou validar. - Alimente o modelo com história, não só com pergunta.
Ao pedir ajuda, inclua quem, o que, por quê, restrições e metas de sucesso. Se o prompt não preenche um tweet, provavelmente ainda falta contexto. - Compare a resposta com seu palpite.
Antes de ler o output, anote qual você acha que será o resultado. Esse simples “jogo de adivinhação” mantém o músculo analítico ativo e cria aprendizado imediato quando há divergência.
Ligando os pontos com Design Thinking
O Design Thinking continua sendo nossa bússola para uso consciente da IA:
- Empatia como critério, não como dado: o modelo prevê padrões, mas só você capta as sutilezas políticas de um time ou a ansiedade de um cliente.
- Colaboração que orquestra, não que substitui: IA agiliza tarefas, mas é o atrito criativo entre visões humanas que gera inovação sustentável.
- Experimentação como forma de aprender: IA cria protótipos em segundos; o valor está em testar rápido, iterar e fazer novas perguntas.
Em um mundo onde quase tudo pode ser automatizado, o diferencial está na intenção e na capacidade de raciocinar antes de delegar.
Design Thinking, então, deixa de ser apenas uma metodologia e se torna um alfabeto ampliado para navegar num ambiente corporativo saturado de algoritmos: uma forma de ler e escrever futuros com consciência, criatividade e responsabilidade.
Que cada prompt seja precedido por reflexão, e que cada resposta da IA amplie, jamais substitua, o que temos de mais humano: pensar, questionar e criar com propósito.